
Falar sobre o G despertou em mim um conjunto de emoções estranhas.
Quando dei por mim estava agarrada a um monte de caixas onde guardo recordações e procurava loucamente pela agenda de 1999. Lá estava ela, quase no fundo da caixa, abri-a e encontrei.
25 de Março, o dia em que o conheci. Depois desse dia a minha agenda passou a ser demasiado pequena para tanta coisa. Vou virando as folhas, e cada fim-de-semana que passou está escrito o nome de uma cidade, Lisboa, Beja, Caparica, Almada, Barreiro, Santiago, Évora... Viagens que fizemos num Lancia Y azul-escuro a gasolina (que se falasse seria a nossa desgraça). Iamos sem que ninguém soubesse (principalmente os nossos pais) e voltávamos sem que ninguém sentisse.
Conheci-o aqui no Algarve e durante 3 meses a nacional para Lisboa foi a nossa (minha e da Patrícia, porque eu não tinha carta) estrada de eleição.
Guardei na minha memória a imagem do seu sorriso, a profundidade do seu olhar, e um mês depois de o conhecer, voltei a encontra-lo.
Começaram as viagens. A Patrícia envolveu-se com um dos colegas do G e sempre que ela ia ter com ele, a qualquer ponto do país, eu ia também. Na mala levava apenas a minha roupa e a esperança de o ver, nem que fosse ao longe. Nessa 1ª viagem, ao contrário das restantes tive sorte. Chegamos para jantar e lá estava ele, lindo como até então. Por coincidência, ou talvez não, jantei ao lado dele e guardo até hoje as pétalas de um malmequer que ele, delicadamente, roubou do arranjo da mesa e me ofereceu. Que mais podia desejar? Estava feliz. Jantamos, conversamos, sorrimos e umas horas mais tarde... ele foi embora e nem se despediu de mim. Fiquei arrasada. Fomos para uma discoteca onde bebi, dancei e guardei a porta durante toda a noite na esperança de o ver entrar. No dia seguinte (além da ressaca) estava de rastos. Depois de um inicio de noite tão agradável ele partiu sem uma única palavra.
Contei cada hora dos 10 dias que passaram até o voltar a encontrar. Estávamos a 13 de Maio, em plena queima das fitas (S.A.), e depois de uma noite bem alegre e de um pequeno-almoço bem saboroso, juntamos uns quantos amigos e fomos curtir o sol até à praia. Ele ia a conduzir e eu ao lado dele.
Mais tarde, já sentada na areia muito perto do mar e com os sapatos na mão, senti que alguém se aproximava. Era ele. Sentou-se ao meu lado e ficamos a conversar. Falamos, sobre tudo e sobre nada, sobre o tempo, sobre a praia, sobre a queima, sobre a faculdade... mas nunca falamos sobre cada um de nós.
O tempo passou e a meio da manhã o sono falou mais alto.
Já em casa, e apesar do sono, não conseguia dormir. Relembrei vezes sem conta cada pormenor das horas que passei com ele. Queria guardar cada um deles com todos os detalhes, como se de um filme se tratasse. Surpreendentemente, ainda hoje recordo esses detalhes. As mãos a tremer quando ele se aproximava, a boca seca, repensava cada palavra antes de a dizer com medo de fazer má figura, cada olhar, cada toque.
Fecho os olhos e quase consigo ouvir a sua voz e sentir as suas mãos quando me disse "tens areia na cara" e depois, com uma suavidade única, me tocou de leve no rosto para limpar.
Durante anos procurei esse toque em todos os homens que encontrei, e talvez por isso tenha adiado a minha felicidade por tanto tempo.
A viagem seguinte, 13 dias depois, levou-nos a Évora, e essa sim foi a nossa noite. Essa será a noite que, por mais anos que viva, já mais conseguirei esquecer.
Sem comentários:
Enviar um comentário