
Oito dias mais tarde, depois de um jantar de comemoração do fim do ano lectivo, estava eu na praia, a caminhar à luz da lua e a recordar pela enésima vez aquela noite. Com a ajuda do álcool tomei coragem e liguei-lhe. Era de madrugada e digamos que ele não achou muita piada. Depois de, furioso, me dizer duas ou três coisas (e com razão) desligou-me o telemóvel. Estava tudo perdido. Tudo o que eu havia imaginado acabava de se perder. Eu tinha deitado tudo a perder. Chorei o resto da noite, e no dia seguinte quando acordei as lágrimas ainda corriam pelo meu rosto contra a minha vontade. Sem saber como remediar a situação enviei um SMS (sim, já havia SMS´s na altura para planos de assinatura) a pedir desculpa. Nunca obtive resposta e não voltei a vê-lo senão um ano depois, e pela última vez.
A noite começou mal e acabou pior ainda.
Apanhei boleia para a baixa da cidade com um amigo e pelo caminho encontramo-los. O meu amigo, porque também os conhecia parou o carro para lhes falar. Todos se aproximaram do carro e fizeram uma grande festa e ele também, até que me viu. Não sei o que terá pensado por eu ir no carro sozinha com o meu amigo, mas o sorriso que tinha até então desapareceu, e afastou-se do carro. Eu encostei-me ao banco e já com uma lágrima no canto do olho, perdi também a vontade de sorrir. Nessa noite tratei de lhe fazer chegar as mãos alguns copos na esperança de que, menos lúcido pudesse tecer algum comentário à nossa história, mas as horas passavam e ele limitava-se a olhar-me de longe e a sorrir. Já um pouco tocada desatei num pranto que fiz questão de esconder de todos. O meu amigo (o da boleia) veio limpar-me as lágrimas e sem saber de nada tentou animar-me. Uns minutos mais tarde, e já recomposta (pelo menos por fora) o meu príncipe veio ter comigo. Chegou sorrateiramente, agarrou-me pelo braço e eu virei-me para ele. Os nossos lábios ficaram muito próximos. O curto dialogo que se seguiu podia ter terminado da melhor forma, mas fiz questão de estragar tudo.
- “Está tudo bem contigo?”
- “Sim, na medida do possível, respondi. E tu?”
- “Também. Há muito tempo que não nos viamos, deixas-te de ir à costa!?”
- “Pois, o tempo não dá para tudo e este ano tem sido complicado na faculdade. Mas tu também não tens vinda cá.”
O que se seguiu foi uma surpresa para mim, ele tinha-me observado durante toda a noite sem que desse por isso.
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