A crise ( I )

Maldita alergia que não me deixou dormir e me vez vaguear toda noite entre o quarto e a cozinha. Maldita a hora (ou talvez não) em que decidi espreitar as sms do teu tlm que tanto tens escondido. Na noite em que passavam 5 anos e nove meses do inicio do nosso namoro foi torturante descobrir que eu não era a única mulher da tua vida. As minhas mãos tremeram e as lágrimas escorreram-me ao ler aquelas mensagens. Mais torturante ainda foi ler as sms que tu lhe tinhas enviado. Depois de todo este tempo em que estivemos juntos, depois de tantas vezes te ter perdoado as sessões de infidelidade que aos poucos fui descobrindo, esta foi de todas a pior revelação. Dias antes conversavas com a tua avó sobre o nosso casamento (que iria ser no próximo ano), falavas sobre as paredes da nossa casa que finalmente se elevam, uma casa que desenhamos os dois, um projecto que construímos lado a lado. Voltei ao quarto e olhei-te, deitado na cama, alheio a tudo o que se passava, alheio à minha descoberta. Não mais consegui dormir. Eram 2h da manha, e eu tinha vontade de acender a luz, arrumar todas as minhas coisas e sair daquela casa. Tive vontade de te saltar para cima e te encher de porrada. Tantas vezes te perguntei “és feliz comigo?” e afinal não eras. Tinhas de ter mais uma e logo ela, a tua ex-namorada que havias deixado para ficar comigo. Finalmente, às 6h da manha acordas e vês-me sair do quarto. Talvez pela minha demora vais ao meu encontro e não resisto a dizer-te o que horas antes tinha descoberto. Tinha vontade de gritar contigo, de berrar, de te espancar, mas os teus pais dormiam num sono profundo no quarto ao lado. Não deixo que me toques e aviso-te que assim que todos saírem arrumo as minhas coisas e vou embora. Para onde não sei, mas não posso ficar. Vagueio pelo quarto até as 8h da manha, e finalmente deito-me na cama, bem longe de ti. Adormeço por 2h e quando acordo começo a arrumar as minhas coisas. A tua mão estava em casa e eu não podia sair. Não queria dar explicações a ninguém, não queria que me vissem naquele sofrimento, não queria ter de enfrentar as pessoas, não naquele momento. As horas foram passando e não havia maneira de ela sair. Era para mim impossível faltar à consulta que havia marcado (maldita alergia) e lá fui eu. Lavada em lágrimas e num desespero enorme. Chego ao médico e recebo uma sms. Era ela. Queria simplesmente avisar-me de que estava a caminho de um encontro contigo. Mal podia acreditar. Depois de tudo o que te havia dito naquela madrugada, depois de me pedires para não te abandonar porque não sabias viver sem mim, porque tínhamos a nossa casa quase pronta, porque o nosso casamento quase marcado… 12 minutos depois toca o tlm. Era ela outra vez. “Já fodi, já lhe podes ligar que ele agora já te atende”. O que senti naquele momento foi algo que não consigo explicar. Queria morrer ali mesmo, nunca mais ter de voltar a ver-te, nunca mais ter de voltar. Voltei a casa ao fim da tarde, e tua mãe continuava lá. Finalmente vejo que ela vai sair. É a minha oportunidade, mas chegas tu. A todo o custo impedes-me de sair. Ligas para ela, dizes-lhe mil e uma coisas mas tudo me soa a falso. Ela liga-me para me dizer que tu lhe havias entregado a tua aliança como prova de que já não estavas comigo. Olho para a tua mão e ela está lá. Como é possível, estará ela a mentir-me?? (Pus o tlm em alta voz.) Não contente, conta-me pormenores dos vossos encontros, das vossas aventuras sexuais que ouvimos os dois, e que tu vais negando ao mesmo tempo que me pedes para ficar. “A aliança, se a tens quero vê-la, assim como essas sms que ele te enviou”, digo-lhe eu. Marcamos um encontro para o dia seguinte (hoje) e depois de desligar o tlm digo-lhe que ele tem 24h para me provar que tudo o que ela me havia dito minutos antes era mentira. Foi difícil o jantar. Foi difícil deitar-me ao seu lado. Foi difícil acordar ao lado dele e ver que afinal não tinha sido um pesadelo. Pergunto-me, como é possível? Como teve ele coragem de fazer isto? E porquê? PORQUÊ??