
Estendo a mão para fora da janela e sinto-as, uma por uma. Aos poucos gelam-me as mãos.
Passeio pela chuva e, aos poucos deixo, de sentir cada parte do meu corpo, fico cada vez mais fria.
Quero que chova cá dentro. Quero lavar a alma. Quero lavar o meu coração.
Quero apagar toda a dor a toda mágoa que transporto e recomeçar. Preciso de lavar a minha alma e não sei como faze-lo.
Preciso afogar tudo o que sinto, e começar a sentir novamente, mas de outra forma.
Olho à minha volta e estou sozinha. Vagueio pela rua, à chuva. Todos me olham. Uns riem-se, outros espantam-se.
Um casal de namorados beija-se apaixonadamente ao som da chuva e consigo ler nos lábios dele a palavra «amo-te». O sorriso dela retribui o sentimento e o abraço que segue mostra ao mundo que aquele casal é, ainda, feliz.
Traz-me à memória que também eu já te beijei ao som da chuva e que também nesse momento te disse amo-te. O sorriso foi meu, as palavras, o sentimento… como fui feliz ao pensar que os teus gestos eram sinal de que também tu me amavas.
Agora, preciso que chova. Quero que chova dentro de mim e que o dilúvio leve de cá de dentro este sentimento que me consome a alma e o corpo. Este sentimento que tu não foste capaz de retribuir, este sentimento que não mereceu um sorriso, este sentimento que não quero mais sentir.
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